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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

24x7* artigo - 1a. parte

24/7 quer dizer simplesmente 24 horas por dia - sete dias por semana.
Relacionamento a longo prazo.
O que não é tão simples, pois normalmente significa o desejo de um compromisso para o resto da vida ou uma relação com muitos ou a maior parte dos atributos que são familiares a todos nós na sua versão baunilha - o casamento.
Muita coisa na moderna comunidade D/s se assemelha ou copia a tradição.

Exceto pelo fato de que, de muitas formas, os parceiros mostram um nível de expectativa pelo relacionamento que tende a ser maior.

O que vemos hoje na comunidade é bem similar em certos aspectos ao que chamaríamos de um relacionamento "normal" há 100 anos - entendendo D/s como a Dominação que um parceiro exerce "sobre" o outro.

Há indícios de que as pessoas percebem a "integridade casual" do contrato de casamento tradicional nos dias de hoje, com seu freqüentemente limitado compromisso pessoal, e rejeitam a forma como a sociedade aparentemente aceita isso.
Este seria um dos motivos para o rápido crescimento da comunidade D/s, que estaria ligado à insatisfação de muitos com esse fenômeno.
As pessoas procuram força.


Muitos vêem fraqueza social nesse ambiente permissivo em que estamos, e desejam encontrar a "imagem" ou "substância" do tipo de comunidade ou segurança que acreditam que era normal na época de seus avós.

Com a mudança vem uma sensação de insegurança e uma inquietude interna.


Há com freqüência um forte sentimento de caos, ou, para o indivíduo, a impressão de estar perdido.
Do ponto de vista da mulher, tal alteração ofereceu uma liberdade até então desconhecida em termos físicos e financeiros, e com ela veio a ansiedade de não saber se o companheiro tem de fato a firme resolução de permanecer ao seu lado para o que der e vier.


Em muitos casos os homens tendem a ver essa nova liberdade como algo que diminui a sua responsabilidade de manter o relacionamento quando ocorrem problemas ou quando as coisas ficam difíceis.
Outro aspecto que não deve ser menosprezado é o crescente desejo, de ambos os lados, de experimentar o oposto da expectativa tradicional.


Para muita gente esta é provavelmente a primeira vez na História em que se torna relativamente aceitável explorar sentimentos que há 30 anos, se fossem expostos publicamente, poderiam arrasar a vida pessoal, a carreira e a reputação de alguém.


As respostas a estas mudanças são bem diferentes de acordo com o gênero: em muitos casos, submissas tendem a procurar ativamente a força do homem tradicional (mesmo em relacionamentos homossexuais); já os submissos parecem desejar abandonar esse papel e encontrar sua completude através de aspectos antes inexplorados de suas personalidades e do eu interior.

Somos todos o produto de milhares de anos de evolução, experimentação, mutação e sucesso.
O que hoje consideramos tradicional na verdade só passou a ser tradição há um período de tempo muito curto.

As tradições de hoje datam de menos de 2.000 anos, e a maior parte dos aspectos organizacionais do "macho dominante" e da "fêmea submissa" podem ser identificados como comportamento patriarcal imposto por organizações religiosas ou governos.

Sempre houve sugestões de que esse modelo patriarcal era "o" padrão da humanidade nas sociedades mais antigas e primitivas.

Entretanto, isso pode não ser tão correto quanto parece à primeira vista.

As tribos primitivas modernas, formadas por povos que se mantiveram afastados de qualquer interação com populações maiores, freqüentemente moldam suas sociedades sem o que consideramos estruturas patriarcais dominantes tradicionais.


Então, mesmo quando falamos, nossa compreensão da História humana continua a ser escrita e reescrita, à medida que somos forçados a considerar que o que poderia ser o modelo preponderante nos relacionamentos humanos é uma forma compartilhada de dominação, em que um parceiro domina algumas decisões e o outro domina as outras decisões, num esforço cooperativo para que a "família" seja bem sucedida.

Um olhar atento sobre nossas próprias sociedades mostrará que há evidências deste tipo de comportamento em virtualmente todas as culturas.

Muita coisa em D/s tem a ver com os desejos de quem observa do lado de fora.

Há a imagem de força, pureza, sensualidade, erotismo, a remoção de freios sexuais impostos de forma puritana, tudo isso acoplado a traços ideologicamente soberbos, tais como lealdade, honra, respeito, integridade, confiança, sinceridade e compromisso.


Viver de acordo com essa imagem é bem diferente, ou muito mais desafiador.
Tornou-se algo cinicamente aceitável esperar que os relacionamentos dêem errado.

A expectativa de falha oferece, de certa forma, uma rota de fuga mental do valor integral de palavras, votos e compromissos.


As pessoas "sabem" que, se houver um problema na relação conjugal, os amigos, a família e os colegas de trabalho balançarão a cabeça para mostrar que compreendem, e que ninguém vai perder sua reputação ou ficar sem ter como encarar os outros por causa disso.

Para o D/s funcionar, a palavra do indivíduo precisa ter sentido e valor.

Um dos fundamentos da relação é a confiança.

Se a sua palavra é fluida, você não pode estabelecer e sustentar esta confiança fundamental. Isso já basta para nos forçar a desaprender alguns hábitos baunilhas.
Alguém que ativamente quebra sua palavra ou seu juramento no meio D/s se torna inconfiável - e isso vale para Dominadores e submissos.


Sem a confiança fundamental, o relacionamento deixa de existir em qualquer tipo de estado positivo ou de crescimento.
Torna-se crucial revelar com clareza exatamente aquilo que se quer dizer, e ouvir atentamente para escutar exatamente o que o parceiro diz.


Muitas vezes somos ensinados a dizer não a verdade, mas aquilo que acreditamos que o outro quer ouvir.
A verdade pode ser dura ou cruel, mas ela é o fio da lâmina que provoca muito menos dano que aquele provocado por um falso verniz.

Honestidade é essencial.

Esconder ou mascarar qualquer coisa levará rapidamente a um emaranhado de problemas e na maioria dos casos a minar o potencial da relação.

Para que acreditem em você, é preciso que você construa sua credibilidade.

Se sua palavra for considerada fraca ou tênue, então você não obterá respeito, confiança ou valor. Muitos se atiram aos relacionamentos 24/7 com os olhos arregalados para suas potencialidades. Sonhos coloridos baseados em fantasias, delírios, expectativas irreais e idéias completamente diferentes daquilo em que realmente entram.
Reconciliar imagem e realidade leva algum tempo, muito trabalho e, normalmente, anos de esforço e comprometimento.

Desenvolver ou abraçar o todo de si mesmo não é uma coisa que vai acontecer dez minutos depois da primeira conversa numa sala de chat D/s ou no dia seguinte à primeira experiência real.
É um processo preenchido por lutas.


Um submisso que conheço descreve essa caminhada assim: "submissão é muitas vezes como uma insurreição, uma guerra constante contra mim mesmo, na qual se engajam meu desejo e minha força de vontade".

Submissão não é uma constante, não é algo que se escolhe e então se torna real a partir do momento da escolha.

Dominação também não é uma constante.


Sugerir algo assim nega a completude do eu interior.

Dominadoras sentem muitas vezes as fraquezas e vulnerabilidades pessoais, como qualquer ser humano.

Ser capaz de experimentar estes momentos abertamente, sem censura ou julgamento, é também parte de ser completo.

Muitas Dominadoras iniciantes acreditam que mostrar essas fraquezas fará os outros perderam o respeito por elas. Na verdade, é o oposto. Perder a vergonha é uma demonstração de força. Abraçar a inteireza do próprio ser é algo que fortalece e reforça o ego ou a plataforma em que se vive.

A relação 24/7 requer que ambos os indivíduos se concentrem no crescimento positivo.
Torna-se obrigatório desenvolver novas habilidades e flexibilidade pessoal para se adaptar aos desejos e necessidades específicos do parceiro.

É preciso remover de forma ativa e seletiva os hábitos baunilhas, tão arraigados, de reagir de acordo com expectativas.


Uma relação 24/7 não sobrevive a mentiras, desonestidades, juras casuais, ou qualquer demonstração de inconfiabilidade.

As ramificações do fracasso para um casal D/s costumam ser mais devastadoras do que as conseqüências similares em relacionamentos baunilhas.

Em geral, o investimento é mais profundo, especialmente se o casal D/s (como normalmente ocorre) se envolve com práticas SM.


D/s exige mais.

Os níveis de compromisso e responsabilidade são significativamente mais altos.

E, em conseqüência, também os desafios e desgastes, para qualquer um que se envolva ao longo dos anos que se seguem ao encontro inicial.

Tais relacionamentos não deveriam começar de forma ligeira ou casual.


O tempo não é um inimigo nesse caso.

Demore-se o quanto for preciso para investigar cuidadosamente todos os aspectos de seu parceiro em potencial antes de realizar qualquer movimento em direção a um laço mais profundo ou intenso, antes de considerar uma relação 24/7 ou de tempo integral.


* autor desconhecido, publicado no meu site em 2001

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